quarta-feira, 14 de julho de 2010

Acomodação: Fim do Casamento

Madame Bovary (de Gustave Flaubert, 1857) é um livro para ser vangloriado por muitas razões (deixarei esta tarefa para outra postagem), mas gostaria de analisar este pequeno trecho ainda no começo do livro (Cap. 7 da primeira parte).

A conversa de Carlos era plana como o passeio da rua, e as idéias de toda a gente desfilavam nela com o seu feitio vulgar, sem provocar comoção, riso ou devaneio. Carlos nunca tivera curiosidade, dizia ele, enquanto residira em Ruão, de ir ao teatro ver os atores de Paris. Não sabia nadar, nem esgrimir, nem atirar, e não pôde um dia explicar-lhe certo termo de equitação que ela encontrara num romance.

Um homem não devia, ao contrário, primar em múltiplas atividades, saber iniciar uma mulher nos embates da paixão, nos requintes da vida, enfim, em todos os mistérios? Mas aquele não ensinava, nada sabia, nada desejava. Supunha-a feliz; e ela não lhe podia perdoar aquela tranqüilidade tão bem assente, aquela gravidade serena, nem a própria felicidade que ela lhe dava.

O trecho na boca da recém casada Emma Bovary coloca um pesado fardo nas costas masculinas. Ele deve ser uma espécie de super-homem e ter toda a responsabilidade por trazer as coisas interessantes para a vida em comum. Está no mínimo em sintonia com a época (séc. XIX) e com o modelo social vigente: o homem era o provedor e a mulher a dona de casa e mãe dos filhos.

Poderia explorar este filão, mas é a última parte (que ressaltei em vermelho) o que mais me chama atenção, para a qual tenho uma interpretação toda própria (acho que estou colocando mais de mim do que tirando do Flaubert).

É verdade que há muita fantasia no amor, gostamos de idealizar a pessoa com a qual nos relacionamos, e há algumas pessoas que não passam de fantasias mesmo. Por exemplo, celebridades, atrizes de cinema com quem nos identificamos, mas algumas dessas fantasias são mais próximas, são pessoas que nos encontramos e até conhecemos, mas que continuam igualmente inatingíveis.

Emma Rouault era uma dessas pessoas para Charles Bovary. Jovem, bonita, burguesa, bem educada, de modos urbanos. Ele apesar de médico, era consciente de sua mediocridade, era apenas um médico provinciano (por não ter cursado todos os anos de Medicina não tinha o direito de clinicar em Paris). Conhecera e nutrira suas fantasias em relação à jovem Emma antes mesmo de enviuvar. Quando o fato se deu, não se fez de rogado em corterjar o objeto do desejo.

A falta de opção de Emma, deslocada em uma França rural que pouco a dizia, fez com que ela de bom grado aceitasse o pedido de sua mão.

Mas a realidade cobra seu preço e o tempo é o mais difícil dos deuses. A citação acima se dá há apenas dois capítulos do grande casamento. É a gestação na psique de Emma do adultério que haverá de vir.

A lição que quero tirar é a da não acomodação. Emma era tanto objeto do desejo de Charles que este renunciara a todos os demais prazeres da vida. Estar com ela, ter a sua companhia eram mais do que suficientes. E ele não se dava conta de suas íntimas insatisfações. Emma era muito sutil para o seu jeito meio bronco.

A não simetria da relação começa a cobrar o seu preço. Charles era um meio para Emma, um meio para galgar novos horizontes, voltar a cultivar uma vida cultural própria da cidade. Por sua vez, Emma era um fim para Charles. Ela lhe bastava e ele estava muito feliz com sua vidinha provinciana, mas calma e sem sobressaltos.

Por isto Emma estava insatisfeita com a felicidade que "ela própria lhe dava". Esta felicidade que ele gozara em sua companhia estava na origem de seus infortúnios.

Este é um tema muito sútil e uma daz razões por considerarmos Flaubert um dos grandes da literatura de todos os tempos, e há inclusive quem aponte Madame Bovary como o melhor romance já escrito (para mim é difícil algum outro ganhar de Irmãos Karamazov de Doistoievski, para uma amiga minha o melhor é O Vermelho e o Negro de Stendhal).

Interessante é notar que há um erro na tradução da Editora Abril na Coleção Os Imortais da Literatura. Lá a frase traduz-se como " nem a própria felicidade que ELE lhe dava." O que faz toda a diferença. Desde o começo li a frase inconscientemente como "ELA". E foi o que me chamou atenção. Surpreendi-me ao veriifcar que em português estava como "ELE". Me dei ao trabalho de verificar nas versões em inglês e em francês, e estão mesmo como ela. O grande Flaubert não iria vacilar. Reproduzo o trecho em inglês e no original em francês para o deleite dos mais interessados. Mais ainda, coloco links para quem quiser baixar o livro em português, inglês e em francês.

Charles’s conversation was as flat as any pavement, and everybody’s ideas plodded along it, garbed in pedestrian style, inspiring no emotion, no laughter, no reverie. He had never felt tempted, he said, while living in Rouen, to go to the theatre to see the actors from Paris. He did not know how to swim, or fence, or shoot a gun, and he was unable, one day, to explain to her a term in riding that she had come across in a book.

But a man, surely, should know everything, should excel at many different things, should initiate you into the intensities of passion, into the refinements of life, into all its mysteries? But this man taught nothing, knew nothing, desired nothing. He believed she was happy; and she resented him for this settled calm of his, for his untroubled dullness, for the very happiness she brought him.

La conversation de Charles était plate comme un trottoir de rue, et les idées de tout le monde y défilaient dans leur costume ordinaire, sans exciter d’émotion, de rire ou de rêverie. Il n’avait jamais été curieux, disait-il, pendant qu’il habitait Rouen, d’aller voir au théâtre les acteurs de Paris. Il ne savait ni nager, ni faire des armes, ni tirer le pistolet, et il ne put, un jour, lui expliquer un terme d’équitation qu’elle avait rencontré dans un roman.

Un homme, au contraire, ne devait-il pas, tout connaître, exceller en des activités multiples, vous initier aux énergies de la passion, aux raffinements de la vie, à tous les mystères ? Mais il n’enseignait rien, celui-là, ne savait rien, ne souhaitait rien. Il la croyait heureuse ; et elle lui en voulait de ce calme si bien assis, de cette pesanteur sereine, du bonheur même qu’elle lui donnait.

LINKS

Português:

http://www.scribd.com/doc/3729673/Gustave-Flaubert-Madame-Bovary-Br

Inglês:

http://gigapedia.com/items:links?id=375603

Francês:

http://www.gutenberg.org/etext/14155

domingo, 11 de julho de 2010

Teste 1

Estou apenas experimentando. Vamos ver se funciona.

Bem Vindo

Meu propósito é escrever sobre vários assuntos neste Blog, mas ele está ainda em fase experimental.

A Espanha é a Grande Campeã

Para o bem do futebol deu Espanha. Dominou amplamente a partida e já deveria ter ganho no segundo tempo. Os primeiros quinze minutos foram de domínio total da Espanha que teve os primeiros chutes a gol. Depois a Holanda equilibrou o jogo, isto é, "melou o jogo", não jogou ma snão deixou a Espanha jogar. E fez isto com muita catimba e faltas. Muitos cartões amarelos foram distribuídos e alguns jogadores holandeses poderiam até terem sido expulsos.

No segundo tempo só deu Espanha. Dominou do começo ao fim, mas o futebol é tão implacável que as duas maiores chances pertenceram à Holanda nos pés do Robben, dois contra ataques com passes perfeitos e com o Robben na cara do gol. O goleiro Casillas salvou a Espanha nas duas oportunidades. Isto só mostra que se a Espanha é o melhor time de futebol da atualidade, a Holanda é muito mais matadora e decisiva. Mas lhe faltou futebol, com o que tem, ela fez o melhor que pode. Chegou na final merecidamente e montou um time ultra competitivo, o acaso poderia até lhe feito campeã.

Mas para o bem do futebol bem jogado deu Espanha. Não é  a mais competitiva das equipes, com a bola que tem deveria ganhar os jogos com muito mais facilidade. Fosse um time mais focado atropelaria os adversários.

Sua grande virtude é ter a posse de bola o jogo inteiro, jogar no campo do adversário, e não ceder contra ataques. É muito difícil criar chances contra  a Espanha. A Alemanha criou uma única chance, a Holanda duas, e as duas graças ao talento individual de Robben. Seu grande defeito é ter o controle do jogo e não criar chances de gol. No tempo normal teve as mesmas duas chances que a Holanda teve.

Até que na prorrogação, os deuses do futebol resolveram intervir e estabelecer a justiça em nome do bom futebol.

Parabéns Espanha, que seu exemplo seja seguido pelos técnicos de futebol mundo afora, principalmente no Brasil, celeiro de craques. Quem tem craques tem que se impor pelo jogo. O Brasil de Dunga não optou por isso. A Espanha sim, e se deu bem.

Sepultemos de vez esta falsa dicotomia: futebol de resultados versus futebol arte. A Espanha pratica o futebol arte que deu muitos resultados!

Até a próxima Copa no Brasil!

A final da copa é hoje

É hoje e eu nao poderia deixar de fazer meus comentários de última hora. Lendo  os cronistas esportivos, dentre eles com quem mais me identifico é com o PVC da ESPN. Discordo do Juca Kfouri que em seu afã de valorizar os craques minimiza o valor do esquema tático. Para mim, esta copa mostrou o contrário: técnico de futebol ganha jogo. Brasil e Argentina sairam precocemente principalmente por não terem bons técnicos. Já comentei isto anteriormente aqui. Discordo do Tostão porque a Espanha é a seleção de futebol bonito mais estranha que já se viu: pois tem um dos piores ataques e uma das melhores defesas. Seu ataque fez apenas 07 gols e sua defesa tomou 02. O mais incrível da Espanha é que ataca com seis ou sete jogadores e não toma contra ataque. Foi assim que ganhou o jogo mais difícil e importantes nesta copa, o 1 a 0 na Alemanha. Efeito de um time muito bem coordenado e compactado. Mas chuta pouco e mal, apesar de ter umas das estatísticas mais positivas no que diz respeito a chutes a gol. Já os que entram ...

Por que desde o jogo contra o Brasil aponto a Holanda como favorita para ganhar a copa? Primeiro, porque o vencedor daquele jogo fatalmente chegaria à final. Segundo, porque a Holanda jogou como time grande, decidido e competente. Virar o jogo perdendo de 1 a 0 para o Brasil em uma quarta de final não é facil. É o que tenho chamado de time mais preparado para ganhar a copa. O foco do Holanda é impressionante. Tenho que concordar com o PVC: a Holanda é o que o Brasil de Dunga queria ter sido nesta copa, eficiente e competitivo (E a Espanha é o que o Brasil já foi no passado, o time de toques envolventes).

Kluivert (ex-atacante holandês) para mim fez o melhor prognóstico: vencerá a final quem fizer o primeiro gol. Este é o meu prognóstico para o placar, 1 a 0. O outro seria 2 a 1; não aposto em empates e prorrogação.

A expectativa é grande, final de copa para quem gosta de futebol é imperdível e causa ansiedade.

Bom jogo  a todos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Previsão: Final da Copa (Holanda X Espanha), vai dar Holanda

Desde a vitória da Holanda sobre o Brasil que venho dizendo que a Holanda será a campeã, aliás, no meu entender aquela foi a final antecipada, o vencedor seria o campeão.

Agora, a final está definida. A Holanda confirmou sua passagem contra o Uruguay (em jogo mais complicado do que o esperado, mas não o resultado) e a Espanha finalmente resolveu jogar futebol, e passou com extrema competência sobre a sensação da Copa e apontada pela maioria como a melhor seleção da Copa e grande favorita.

Copa é uma mistura de bom futebol e competitividade. Não a falsa dicotomia que virou moda no Brasil baseada no insucesso do futebol bonito de 1982 e o sucesso do futebol de resultados de 1994.

Para ganhar a Copa tem que jogar bom futebol. Dunga que o diga, se tiver aprendido a lição. A Alemanha tinha um bom futebol, talvez o melhor da Copa, mas não era o mais competitivo. requer um olhar atento para perceber certas sutilezas. A média de idade muito baixa era um indicador, claro que não decisivo. Eu diria que faltava "encorpar". Para 2010, a Alemanha virá como grande favorita porque é uma grande geração que adquiriu experiência.

Holanda e Espanha são times "encorpados", jogam para vencer e têm a personalidade de campeões. Jogo duríssimo de palpite impossível, mas a brincadeira aqui do Blog é prever, portanto, vamos de Holanda.

Por que? A Espanha tem melhor futebol que a Hoalnda, mas esta joga, não é só competição: Van Bommel, Sneijder e Robben, dão grande qualidade à equipe e os demais compõem bem. Van Persie, Kuit, um bom goleiro e boa defesa. A Espanha é muito mais finesse e o meio de campo da Espanha faz gosto ver jogar: Xabi Alonzo, Xavi e Iniesta jogam muito e contam com o entrosamento de Barcelona. Agora que resolveram jogar formam um time quase imbatível, pois mantêm a posse de bola, atacam em bloco com seis sete jogadores e como o time é bem postado em campo, apesar disso, não oferecem o contra ataque para o dversário. Têm um defeito: demoram demais para finalizar, às vezes, falta objetividade no momento decisivo quando se aproximam da área.

E é disto que a Holanda poderá tirar vantagem. A Espanha terá a posse de bola, mas a Holanda, diferente da Alemanha, conseguirá criar chances de gols?

Acredito que sim, aliás, basta um, desde que a defesa segure atrás.

Grande jogo, imperdível.

Errei: Deu Espanha

Era inevitável, um dia erraria e ele veio rápido. Previ que a Espanha ofereceria um jogo difícil para a Alemanha, mas o que se viu foi o contrário, a Alemanha endureceu o jogo com a Espanha, que jogou como time grande do princípio ao fim do jogo. A Espanha impôs seu jogo de compactação no meio campo e toques envolventes, teve a posse de bola, e não cedeu contra-ataques para a Alemanha, sua melhor arma. A Alemanha teve uma única oportunidade de gol, com o Krooss que entrara, e isto pelos 20 minutos do segundo tempo. Muito pouco para o time que, até então, era a sensação, e a favorita da maioria para vencer a Copa.

Acertei ao prever que a Espanha faria seu melhor jogo. Não deu outra. A Espanha jogou como time grande e finalmente retomou seu futebol que a fez vencer a Eurocopa 2008. Agora credencia-se para ser a campeã mundial. Não será fácil pois terá pela frente a Holanda, o único time que venceu todos os seus jogos até agora. mas isto é assunto para o post acima.